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09/05/2022
Gazeta de Uberaba - 25 de maio de 1888
O BAPTISMO DE LUZ
Em 13 de maio de 1888 foi decretada a Lei Áurea, extinguindo de vez a escravidão no Brasil.
O jornal Gazeta de Uberaba publicou a Lei 3.353 apenas no dia 25 de maio.
Gazeta de Uberaba, 25 de maio de 1888
Mas a notícia do fim da escravidão , chegou em Uberaba, alguns dias antes. O jornal narrou os movimentos deste acontecimento :
[...]
A noticia correu rapida em todos os pontos da cidade e nos povoados circumvizinhos sendo recebida com aplauso em toda a parte.
Até o dia 21 faziam-se os preparativos para a recepção do Correio que nesse dia devia chegar trazendo a confirmação da boa nova. Numerosos bandos de homens de côr percorriam ruidosamente a cidade, dando vivas á liberdade, ao ministério 10 de março a Princeza Imperial Regente e ao Imperador.
De todas as estradas convergiam para a cidade grupos de pretos que abandonavam as fazendas circumvizinhas.
A 21 [ilegível ] viam-se destacados em [ilegível ] numero de cavalleiros na estrada que desta vae dar a cidade de Sacramento, a fim de encontrar com o Correio.
Pouco a pouco esse grupo foi-se aumentando com um numeroso contingente de homens e mulheres a pé, que se lhe haviam ido unir.
Era indescriptivel o delirio dessa multidão que ia receber dentro em pouco a confirmação de que eram, de facto, cidadãos livres.
A’s 4 horas da tarde appareceu deante de uma multidão o estafeta conduzindo dous animaes com as malas do Correio.
Um grito unissono de viva a liberdade [ilegível] de toda aquela massa de povo e ao estampido de innumeros fogos, que ao ar subiam de todos os recantos da cidade, enquanto a banda de musica União Uberabense, ahi postada com o povo, fazia ouvir uma peça magnífica, as mulheres de côr, n’um enthusiasmo que não se descreve, arrancavam as fitas de seus cabellos, penduravam laçadas sobre as malas do Correio e adornavam com corôas de flôres naturaes as referidas malas, o estafeta e os animaes.
Em prestito imponentissimo desceu pela rua do Commercio [ilegível] povo, bradando vivas á liberdade, indo á frente os cavalleiros com largas bandeiras, em seguida um grande grupo de mulheres de côr no meio das quaes iam os anemaes do Correio pondo os laços de fitas por jovenspretas vestidas de branco. Fechando o prestito desciam um grosso pelotão de homens a pé e a banda musical União Uberabense.
Essa marcha se fazia ao som das peças executadas pela referida banda, aos gritos enthusiasticos que partiam da multidão a qual se iam juntando homens e mulheres sem distincção de côr e de classe.
Percorreram as ruas do Commercio, do Mercado, do Imperador, Guttemberg, Municipal, Vigario Silva, Liberdade e Santo Antonio, as quaes achavam-se ornadas com arcos de flores, sendo recebidos no Largo da Matriz, onde funcionava a agencia do Correio, pela banda musical Philarmonica Uberabense, que executava o hymno nacional.
Deante da agencia agglomerou-se todo o povo.
Enquanto esperava-se a abertura das malas foi entoado o hymno da independencia, acompanhado pela Philarmonica.
[ilegível ] durante todo o percurso daquella marcha, reproduziam-se os vivas á liberdade, á Princesa I Regente, ao gabinete 10 de Março, á imprensa abolicionista, ao Imperador, etc.
Abertas as malas, foi lido em alta voz pelo Dr. Joaquim José Saraiva Junior, ex-promotor publico desta Comarca, o decreto nº 3353 de 13 de Maio de 1888.
Terminada a leitura, a uma breve allocução feita pelo Dr. Saraiva toda aquela multidão agradecida ao throno respondeu com um viva á Princesa I. Regente.
Foram se dissolvendo pouco e pouco.
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A’ noute organisou-se uma marche aux flambeaux, acompanhada pela União Uberabense, e fallaram então sobre a abolição os Drs. João Caetano, Francisco Lemos, Mello Menezes, Gabriel Junqueira, Joaquim Botelho, Chrispiniano Tavares e outros, terminando-se os festejos na melhor boa ordem.
Foi uma manifestação imponentissima do rigosijo popular.
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Todas as classes da sociedade uberabense, unidas como uma só familia partilharam francamente o justo jubilo dos descendentes da Africa.
Foram publicadas nesta mesma edição , mensagens de alguns abolicionistas e simpatizantes uberabenses:
Thomaz Pimentel de Ulhôa, médico, delegado literário e diretor da Escola Normal de Uberaba:
Ave Libertas!
A liberdade a todas as cabeças para pensar e a todos os braços para trabalhar.
A’actual geração brasileira coube a gloria de esmagar totalmente a cabeça dessa hydra chamada escravidão. [...]
Francelino Carvalho:
Libertas !
Salve, aurora do dia 13 de Maio, que surgiste brilhante para coroar a redempção dos captivos! Salve, liberdade, symbolo da justiça! Salve, Gabinete 10 de março, por extinguires uma negra mancha do Brazil, te immortalisaste!
José Joaquim de Oliveira Teixeira, médico e presidente da Câmara Municipal de Uberaba:
Patria Livre.
Que o sol do grande dia da Liberdade seja cheio de esperança da felicidade da Patria. Que com o dia da liberdade, nasce o sol do trabalho que revifica e retempera.
João Baptista Pinheiro:
A Abolição.
A lei n.3353 não surprehendeu a Nação que, anciosa, já sonhava com a desejada aurora da redempção. Que a bençam dos libertos seja a verdadeira sagração da Patria querida.
Uberaba, 23 de Maio de 1888.
Pesquisa : João Araújo e Miguel Jacob
fonte : Gazeta de Uberaba, 25/05/1888 -
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